Notícia  /  06.04.2018

Apontamento Histórico 3 - O Olímpico diplomata

O olímpico diplomata

Coube a António Stromp, Armando Cortesão e Francisco Lázaro, do atletismo, a António Pereira e Joaquim Vital, da luta, e a Fernando Correia, da esgrima (acumulando a função de chefe de missão) assegurar a representação portuguesa nos Jogos da V Olimpíada, celebrados em Estocolmo, em 1912. Tratava-se da primeira delegação portuguesa a tomar parte nuns Jogos Olímpicos, depois de quatro edições em que Portugal não teve qualquer desportista em competição. Os seis atletas que compuseram a primeira missão olímpica portuguesa iniciam a viagem no dia 26 de Junho e, entre navios e comboios, precisaram de seis dias para atingir a capital sueca, depois de passarem por Inglaterra e pela Dinamarca.

 

Já na Suécia, os seis desportistas receberam algumas ajudas, desde logo do adido indicado pela organização para acompanhar a delegação portuguesa, Adolf Lindroth, um militar que se ofereceu como voluntário para ajudar a organização. Mas o principal apoio foi proporcionado pelo embaixador António Feijó, poeta de reconhecidos méritos mas que, na verdade, era diplomata de carreira. De resto, em 1912 era mesmo o decano dos embaixadores em Estocolmo.

 

Feijó tinha recebido do presidente de honra do Comité Olímpico Português, Conde de Penha Garcia, um pedido de que dispensasse a melhor atenção à delegação desportiva portuguesa que iria tomar parte nos Jogos Olímpicos. E naturalmente empenhou-se em dar todo o apoio e em garantir o acompanhamento necessário aos seis rapazes, mesmo acometido de frequentes acessos de gota, que lhe limitavam muito a capacidade de trabalho. Aliás, a tarefa que afirmou aceitar com gosto, na verdade tornou-se um peso difícil de suportar. Numa carta dirigida a um amigo em Portugal, Luís de Magalhães, escreveu: «Não tive um momento de meu com esta trapalhada dos Jogos Olímpicos, que me trazem numa roda-viva. Sou mais ou menos obrigado a aceitar todos os convites; à uma porque estou a fazer de decano, à outra porque tenho aqui seis portugueses (…) que me foram recomendados pelo Conde de Penha Garcia. São bons rapazes, creio que de todos os partidos, digo creio porque me tenho abstido de lhes falar de política, a não ser com o esgrimista Fernando Correia, que me saiu um homem com o juízo no seu lugar.»

 

Apesar das dificuldades sentidas, António Feijó foi uma ajuda preciosa para os atletas chegados de Lisboa. E foi uma ligação fundamental quando, nas semanas posteriores ao encerramento dos Jogos, foi necessário tratar do processo de repatriamento de Francisco Lázaro, falecido na sequência da participação na maratona olímpica.

 

Carlos Gomes

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