Notícia  /  01.12.2020

COLECIONISMO 6

Lendas do Olimpismo Português (I) – António Augusto da Silva Martins

Por iniciativa do Comité Olímpico de Portugal e da Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal, em colaboração com os CTT-Correios de Portugal, foi lançado no dia 3 de outubro de 2020 um inteiro postal dedicado ao atleta olímpico português António Augusto da Silva Martins, atleta do Clube Internacional de Foot-ball / CIF, clube centenário e multidesportivo da cidade de Lisboa. António da Silva Martins participou nos Jogos Olímpicos de Antuérpia-1920, nos de Paris-1924 e nos Jogos Interaliados Pershing-1919, em Paris, no final da I Guerra Mundial em Paris, além de em inúmeros campeonatos nacionais.

Inicio este escrito com um comentário manifestando estranheza por esta lindíssima peça de filatelia olímpica ter sido anonimamente lançada no dia 3 de outubro de 2020 num qualquer balcão dos correios da estação dos Restauradores. Porquê? Não se entende. Já agora deixo uma sugestão: que o próximo lançamento seja efetuado no dia do aniversário do COP, em paralelo com uma exposição do espólio do homenageado.

António da Silva Martins nasceu em Abrantes em 4 de Abril de 1892, foi médico-cirurgião, artista, investigador (colaborou com o prémio Nobel Dr. Egas Moniz) e atleta de eleição.

Escreveu Egas Moniz, quando do seu desaparecimento:

“Era um grande Médico, meu inolvidável companheiro de trabalhos, a que o seu nome também está ligado: mas era acima de tudo um dos melhores homens que tenho conhecido. Ninguém o excedia em bondade, a melhor de todas as qualidades: poucos o igualavam em simpatia e dedicação. Sabia ser amigo; mas nunca ninguém o teve por inimigo.”

Escrever sobre António da Silva Martins não é fácil – a sua vida está cheia de grandes memórias, tanto profissionais como atléticas, bem como a sua relação com as pessoas. Vou procurar deixar algumas referências.

Escreveu o Dr. José Pontes, antigo presidente do COP:

“Foi um modelo a apresentar. Era forte de moral e de físico. Era um tipo de português ‘às direitas’; alma aberta a grandes ideias; disciplinado corporeamente e mentalmente. Não lhe faltou talento e energia. Triunfou pelo princípio das suas qualidades pessoais. Não vejo quem o substitua. Mesmo que surgisse o campeão, talvez não aparecesse o homem bom, culto, correcto e sempre disciplinado que era o Dr. António Martins.“

António da Silva Martins, no campo desportivo, deixou grandes memórias e é nestas que vou procurar apresentá-lo:

“O maior atleta português de todos os tempos. Como desportista, o Dr. António Martins foi o maior de quantos têm podido merecer este título honroso… Lutador esforçado pelo nobre e patriótico ideal da Educação Física e dos Desportos.” (jornal “Os Sports”)

“Um dos grandes, senão o maior, dos Homens do desporto português.”

(“A Última Hora”, Luanda).

“O maior pela elevação moral, pelo valor próprio, pela modéstia incontroversa, dos desportistas de Portugal.” (“Sport de Lisboa”)

“O País perde nele um dos seus mais lídimos cidadãos e o desporto nacional o seu mais categorizado representante («Revista do ACP, 1930)

António da Silva Martins foi um atleta de eleição, praticante de ginástica, atletismo e muito em particular nas várias especialidades do tiro, vindo a falecer com 38 anos de idade na Carreira de Tiro de Pedrouços, na sequência de um acidente com a sua arma de fogo, quando se preparava para mais uma prova.

Participou nos Jogos Olímpicos de Antuérpia-1920, nas provas de tiro por equipas em pistola e carabina, nos Jogos Olímpicos de Paris-1924, em atletismo (lançamento do disco) e no tiro, em provas por equipas e individual de pistola, carabina e armas livres.

No Campeonato do Mundo de Espingarda de Guerra de 1928, em Amesterdão, foi o vencedor na prova de tiro na posição de pé, num ano em que a modalidade não fez parte do programa dos Jogos Olímpicos.

Além dos Jogos Olímpicos, participou nos Jogos Pershing – Jogos Interaliados em Paris, 1919, após o final da I Guerra Mundial, onde foi o vencedor de matches latinos em carabina e pistola livre.

A presença em Paris neste final da Grande Guerra de 1914/1918 deveu-se à sua participação como voluntário no Corpo Expedicionário Português, integrando o batalhão de assalto do Regimento de Infantaria N.º 3, com a patente de tenente médico.

António Augusto da Silva Martins, na sua qualidade atleta de eleição e distinto militar na frente de combate, recebeu as seguintes distinções:

- Medalha de Ouro do Clube Internacional de Foot-ball / CIF;

- Medalha de Ouro da Sociedade de Tiro n.º 2 / Grupo Pátria;

- Comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo com palma;

- Medalha de Guerra;

- Medalha da Victoria;

- Fourragère da Torre e Espada;

- Grande Colar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito;

- vários louvores em ordens de serviço do Exército.

Encontra-se no Museu do Centro de Estudos Egas Moniz, no Hospital de Santa Maria, um exemplar da pinça especial que inventou para fazer as injeções na carótida (angiografia cerebral).

Termino com um a citação do jornal “O Século”:

“As suas altas virtudes morais e cívicas justificam plenamente os imponentes funerais a que assistimos.”


Bibliografia

S/a, Olímpicos de Portugal 1912-2008. Lisboa, IDP, 2008 (págs. 51 a 60).


Legendas

Fig. 1 – Anverso do bilhete-postal, com selo impresso com taxa N20g (serviço interno), onde o atleta se encontra envergando a camisola do CIF.

Fig. 2 – António da Silva Martins envergando o equipamento olímpico, em Paris/1924, onde foi o porta-estandarte da delegação de Portugal.

Fig.3 – Marca postal comemorativa utilizada na estação postal dos Restauradores: CTT LISBOA – 2020.10.03.

Fernando Xavier Martins

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