Notícia  /  07.12.2020

34.º aniversário da AOP marcado por preocupação e esperança

«O desporto é um estímulo que provoca adaptações biológicas. O que temo é que a perda do estímulo que produz estas adaptações biológicas seja substituído por outros estímulos não tão positivos. Tenho muito medo que muitos destes jovens que deixam de praticar desporto venham a ser encontrados um dia destes nos centros de apoio à toxicodependência.» Foi com esta preocupação que António José Silva concluiu a intervenção na sessão comemorativa do 34.º aniversário da Academia Olímpica de Portugal, realizada sábado, 5 de dezembro, por videoconferência.

Falando sobre «Desporto em tempo de pandemia», o presidente da Federação Portuguesa de Natação começou por assinalar que o desporto tem sido uma prioridade adiada para o Estado, que o encara  como uma «menos-valia», traduzida atualmente numa parcela de apenas 0,04 por cento da despesa pública, facto agravado pelas cativações que o governo tem vindo a fazer nos últimos anos. Uma realidade que, sublinha, não é compensada pela iniciativa privada (que é débil no apoio ao desporto) nem pelo tecido associativo (que é também frágil no plano organizativo).

Em resumo, o Estado ignora o desporto na sua multidimensionalidade – enqauanto prática. enquanto indústria e enquanto setor gerador de talentos com repercussões sociais inquestionáveis, talentos esses não circunscitos ao âmbito do rendimento desportivo.

António José Silva fez de seguida uma descrição sumarizada dos diferentes momentos de incidência da pandemia no desporto em Portugal, referindo cinco fases: 1) do alarme social ao anúncio do adiamento dos Jogos Olímpicos, passando pela primeira declaração do estado de emergência; 2) até ao início do desconfinamento; 3) do desconfinamento à apresentação do Plano de Estabilidade Económica e Social e do Plano para a Década, de António Costa e Silva; 4) até à Recomendação 36/2020 da Direção-Geral da Saúde; 5) o «dia seguinte», que decorre das consequências de cada uma das fases anteriores para o sistema desportivo.

Salienta António José Silva que, neste contexto, não basta o anúncio da retoma da prática desportiva, como foi feito: urge apoiar as células de base do desporto português, que são os clubes e os seus atletas. Para o efeito defende regimes fiscais mais favoráveis; redução ou isenção da TSU para entidades localizadas no interior (mas não só), para garantir a manutenção de postos de trabalho, nomeadamente de técnicos; fundos não reembolsáveis de apoio direto a clubes, com critérios bem definidos e sob a forma de contratos locais de desenvolvimento desportivo (no exato montante das perdas acumuladas durante a paragem), levando em conta o número de utentes, a perda comparada com o normal funcionamento, a manutenção dos postos de trabalho e a contribuição para a estratégia nacional e local de cuidados integrados de que o desporto faz parte).

Antes de terminar com a preocupação já referida, o orador elencou ainda o que considera serem as razões e os responsáveis pela irrelevância do desporto nacional. Primeiro, o próprio sistema desportivo, pela irrelevância sócio-política dada a perceber. Segundo, o Estado, pela irrelevância que atribui ao desporto com base em paradigmas sociais maniqueístas e desajustados da sociedade atual. Terceiro, a irrelevância dos interlocutores políticos (Ministério da Educação, Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, Instituto Português do Desporto e Juventude). E, quarto, a irrelevância dos interlocutores do movimento associativo, que não conseguem explicar a importância social do desporto e reivindicar o reconhecimento dessa importância em termos económicos e financeiros.

Mas o contexto é também de esperança, não só pela perspetiva de rápida vacinação da população e resolução (espera-se) do problema da pandemia mas também pela desejada tomada de consciência de todos relativamente à importância que deve ser reconhecida ao desporto, num momento que apresenta importantes desafios tanto no plano da prática da atividade desportiva como no dos valores.

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